5.13.2007

Cansado da América

Beirut sounds like Magnetic Fields.
Magnetic Fields sounds like what Stephin Merritt wants it to sound like.
Though, like Rufus says: "I´m so tired of you America"

5.12.2007

Verdelhos - O sitio mais Lynchiano do mundo

Verdelhos fica na Serra da Estrela. Cheguei lá por caminhos de cabras e pela indicação de alguns pastores completamente isolados, aparentemente esquecidos da posse de um atributo tão legítimo que é a linguagem. Quando me deparei com o asfalto, faziam obras grandiosas para cortar uma curva, coisa de 10 metros. Levei horas para chegar a Verdelhos. Mais depressa chegava a Bassorá. A paisagem é mágica. A convivência com as nuvens ajuda a isso.
Lá, existe uma praça central desabitada e inóspita. Aliás, tudo em Verdelhos é inóspito. Senti-me como nunca me senti numa ilha: completamente cercado.
Entro num café com a minha amiga Marta. O café estava escuro, porque o dia já era longo e a porta de entrada se mantinha teimosamente encostada. Toda a luz que ali havia, vinha da televisão onde passava os morangos com açucar. As mesas pareciam aleatoreamente ocupadas por indígenas que olhavam inflexivelmente para a tv, sem que por isso mostrassem atenção pelo que estavam a ver - o copo de 3 prevalece, pá!!!
Eu e a Marta pedimos umas sandocas e uns suminhos ao gaiato que estava ao balcão. Não devia ter mais de 12 anos. Tudo isso levou tanto tempo a ser servido que no intervalo entrou um homem de suspensórios em riste, que nos perguntou fixando-nos nos olhos: "para onde vão?". Pergunta legítima naquelas paragens. Sentou-se democráticamente na nossa mesa, vasculhou a pasta que a Marta trazia e voltou a perguntar: "para onde vão?"
Saímos pacíficamente do café e demos outra vez com a claridade da praça central. É uma praça bem arranjadinha, muito florída no centro, onde há árvores cercadas por florzinhas coloridas e rasteiras. Ao redor há uma escola primária, colada à junta de freguesia, que prima pela baixa probabilidade de ser frequentada. Do outro lado da praça há um sanitário público. Entre o centro da praça e o sanitário, há uma passadeira para peões. (Para quê, se por ali não há trânsito?)Maravilhoso!!! (poupo-vos ao pormenor do banco de jardim encostado ao sanitário, como se dali pudesse vir algum som revelador de algum tipo de vida.)
Continuámos a passear pelos recantos, atentos ao nome das ruas arcaicas que entretanto escaparam à memória.
Cruzámo-nos com pouca gente. Desses poucos, em grande percentagem tinham uma deficiência qualquer: ou coxeavam, ou não tinham um braço, ou apresentavam deficiências do foro psiquiátrico, ou do foro alcoólico. (O que me ajuda à integração)
Enquanto passeavamos, ouvimos um sussurrar: "são estrangeiros"...
Apeteceu-me beber uma cerveja. Fui a outro café onde estava a dar a bola pela sport tv. Entrou o Sr. António que me veio perguntar se eu me chamava António, porque todos os meses fazem a festa dos Antónios, para a qual eu estava convidado se tivesse tão nobre nome. E se não o tivesse estava convidado na mesma. Perguntei-lhe o que faziam as mulheres durante as festas dos Antónios. A resposta era previsível: "Então??? Nós temos de comer e de beber!!!" - ok.
Em Verdelhos há um campo de futebol. Claro que uma das balizas está caída.
Em Verdelhos há uma espécie de rio, onde há despojos de lixo que já não nos parecia possivel: roupas, grades de laranjina c... e outros vestígios de abandono, que não precisam de ser referídos.
O caminho de regresso foi feito de noite, a 5 à hora porque a visibilidade, dada a convivência com as nuvens e a pronuncia das curvas não dava para mais. Susto.
Tenho de lá voltar. Ou então talvez seja melhor guardar isto no disco rígido, porque a próxima pode não ser tão abençoada.